quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A vida passa...como o vento!




“Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desvanece.” (Tiago 4.14)


Uma morte súbita de pessoas jovens, como a do político Eduardo Campos e de membros de sua equipe, sempre causa comoção em nós, não apenas por ser repentina, mas principalmente por lembrar-nos de quão efêmera é a vida. As pessoas estão vivendo apressadamente, como se não houvesse amanhã. Muitas nunca param para um viver um momento com a família, para fazer um passeio com um filho, dar assistência a um pai doente, ouvir um irmão que chora. Muitos estão vivendo como se fossem seres imortais, e nem se tocam de que a aparência dessa vida passa, como nos ensina o apóstolo Paulo, em sua carta aos Coríntios.
As pessoas andam agitadas, de um lado para o outro, fechadas em um mundo próprio, onde, muitas vezes, não existe um lugar para Deus. Somente quando a morte chega, se lembram do Criador. Estamos vivendo num mundo hedonista, onde o prazer, para muitos, é o único propósito da vida e onde as pessoas valem mais pelo que têm, do que por aquilo que são.
No entanto, a Palavra de Deus diz que a vida é como um vapor, ou seja, uma névoa, algo que se dissipa em segundos. Não podemos controlar o fluxo da vida, pois só Deus pode fazer isso, mas podemos procurar uma forma de viver melhor, com menos preocupação ou stress. O próprio Cristo, que deixou um Trono cheio de glória, para se fazer homem e nos salvar, ensina que não devemos nos preocupar com o dia de amanhã. Ele nos manda contemplar os lírios do campo e as aves do céu, para que possamos nos consolar, uma vez que a preocupação em excesso apenas nos leva a um estado mental deprimente e, consequentemente, a doenças psicossomáticas ou à depressão. Enquanto muitos se estressam na busca de uma ostentação, nem sempre possível para alguns, o Senhor nos manda mirar no exemplo dos lírios do campo, que se vestem de tal forma, que nem Salomão, em toda sua glória, se vestiu como qualquer deles.
A morte é algo que nos traumatiza. A vida é curta, imprevisível. Todas essas tragédias que nos assolam, deveriam levar-nos a refletir o quanto as pessoas estão partindo para a eternidade, sem esperança. Temos visto a morte de pessoas famosas como Eduardo Campos, o ator Robin Williams e tantos outros. Mas nas ruas das metrópoles estão morrendo “joão-ninguém”, de fome, de frio, de abandono sendo enterrados em covas rasas.
E nós, de que forma estamos contribuindo para o Exército aguerrido do Senhor? Se as pessoas estão indo, prematuramente, para a eternidade, nosso papel não seria mostrar-lhes qual o melhor caminho? As pessoas estão com sede, não do miraculoso, mas de Deus. O inimigo tem plantado no coração do homem, a sede da autossuficiência, mas precisamos encher nossos cântaros da água da vida.
A vida é efêmera, passa como o vento. No capítulo 16 do livro de Provérbios, Deus nos alerta que “o coração do homem planeja o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos.” Portanto, ainda que andemos na tormenta, sabemos que o Senhor guiará nossos passos. Sua mão e alianças eternas nos alcançarão até no caos, porque Ele sempre tem um caminho, mesmo na queda e na arrebentação.








sábado, 3 de agosto de 2013

Num lugar de terra seca


Num lugar de terra seca, onde a maioria dos habitantes jamais cruzou outros caminhos, senão aqueles que empoeiram os próprios pés, vive o seu Geraldo Coelho.  Não como um ser humano de um distrito, cidade, viela ou megalópole qualquer. Há exatos 38 anos ele vive numa toca, como um coelho fugidio. A cidade mais próxima é Comercinho do Bruno, incrustada entre vales do Vale do Jequitinhonha. Mas seu Geraldo não gosta de cidades...
É desconfiado. Não gosta que pessoas desconhecidas se aproximem. Não se sabe se por trauma ou algo que sua mente não consegue discernir, ele sempre acha que qualquer pessoa desconhecida quer levar suas terras. Vai logo dizendo pra mim: “pode levar a terra, o juiz já riscou, pode levar, pode levar”. Pouco sabe seu Geraldo que, da terra nada se leva, a não ser  os sete palmos, pelos quais já há tanta briga!
Ainda solteiro aos 85 anos, seu Geraldo Coelho conta que nunca namorou, nunca deu um beijo em mulher alguma. Isso não se sabe. Sabe-se, no entanto, que mesmo vivendo fora do mundo, ele é antenado, pois nunca se aparta de um velho rádio a pilha, amarrado com velhos pedaços de pano. E dali, de um lugar distante da civilização como a conhecemos, é que ele ouve o que acontece no mundo.
Passa os seus dias levando um pouco de terra pra lá e pra cá, como a consolar os passantes, numa eterna ilusão de que seus pés não se encherão de poeira.
Ao contrário dos coelhos, que buscam em outros capinzais, alegria para seus dias, seu Geraldo jamais sai da sua toca, senão para a estrada de chão batido, abaixo daquilo que ele pensa ser um lar.  Sua mente vacila, como dos loucos.
Durante o dia, ele dialoga com o sol e, à noite, com as estrelas. Se não há sono, o som do radinho corta o silêncio. Gosta do vento que bate em sua pele ressequida. Convive bem com os animais, com os quais divide a toca e a vida. Todos o conhecem e o respeitam.
 Já não se lembra de sua infância, nem de seus pais, mas sabe quem governa o Brasil. Em seu mundinho, vivido dia-a-dia sob uma toca entre duas rochas, ele vai discorrendo sobre coisas que ouve, graças às ondas do rádio.  Em gesticulações nervosas, entre mãos que cortam o ar, ele profetiza sobre o fim dos tempos. Acredita que as novas relações entre pessoas do mesmo sexo- ouviu isso também em seu radinho de pilhas- ainda fará com que Deus derrame juízo na terra.  Diz que nunca beijou uma mulher, mas jamais beijaria um homem. Acho graça da colocação e ele se zanga comigo. Fico séria e ele continua suas divagações.
Suas histórias varam a tarde, que já vai longe. A fome aperta. Seu Geraldo não quer mais falar dele mesmo, pede-nos licença e volta para sua toca. Calado, sorumbático e, como uma ostra, incrusta-se em si mesmo para, quem sabe, viver outras longas décadas, como um coelho, em sua toca.

Seu Geraldo, vivente em terra seca



Há 38 anos longe do mundo

Gestos incertos

que somente sua enxada entende


O rádio a pilhas que traz notícias do mundo

Um homem, uma vida, uma toca

Um lugar chamado Landinho, a visão de mundo mais próxima de seu Geraldo